Nos primeiros dias do cristianismo, um "apóstolo" era, antes e acima de tudo, alguém que afirmava ser uma testemunha ocular da ressurreição.
Poucos dias depois da crucificação, quando dois candidatos foram indicados para a vaga cedida pela traição de Judas, a qualificação exigida era ter conhecido a Jesus pessoalmente antes e depois da sua morte, e ser capaz de oferecer evidências "de primeira mão" sobre a ressurreição ao comunicar o evangelho a outros (At 1.22).
Alguns dias depois, Pedro, pregando o seu primeiro sermão cristão, afirma o mesmo: "A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas" (At 2.32). Na primeira carta aos Coríntios, Paulo baseia a sua reivindicação ao apostolado no mesmo argumento: "Porventura, não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor?" (9.1).
Como essa autoexplicação sugere, pregar o cristianismo significava primeiramente pregar a ressurreição. […] Este é o tema central em todos os sermões cristãos relatados no livro de Atos. A ressurreição e as suas consequências eram o "evangelho", ou as boas novas, que os cristãos comunicavam.
O que chamamos de "evangelhos", as narrativas da vida e morte do nosso Senhor, foram escritos mais tarde para o benefício daqueles que já tinham aceitado o evangelho. Eles não eram a base do cristianismo; foram escritos para os que já eram convertidos. O milagre da ressurreição e a sua teologia vêm primeiro; a biografia vem depois, como um comentário sobre a própria ressurreição. […] O primeiro fato na história do cristianismo é um grupo de pessoas que insiste em dizer que viu a ressurreição. Se elas tivessem morrido sem fazer com que outros acreditassem nesse "evangelho", nenhum dos evangelhos jamais teria sido escrito.
>> Retirado de Um Ano com C. S. Lewis, Editora Ultimato.