No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Tudo foi feito por ele; e nada do que tem sido feito foi feito sem ele.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
A luz resplandece nas trevas, e contra ela as trevas não prevaleceram.
(João 1.1-5)
Desde os tempos primordiais a luz é elemento imprescindível para a sobrevivência do ser humano. Inicialmente ligado às horas do dia, findas as quais se recolhia às suas cavernas e abrigos, o ser humano experimentou uma revolução com a descoberta do fogo. Agora suas atividades poderiam adentrar a noite, além da possibilidade de aquecer-se do frio e preparar refeições mais saborosas.
Por sua importância, a luz foi quase que imediatamente transformada em símbolo, metaforizada. Em relação de oposição às trevas, a luz simbolizou e simboliza alegria, renascimento, renovação, pureza, a divindade.
O evangelho de João, diferentemente de Mateus e Marcos, não apresenta a encarnação e o nascimento de Jesus Cristo. Não há descrições de sua chegada neste mundo, nem de sua infância. Não. João pensa de outra forma. Para falar de Jesus ele vai longe, ao princípio de tudo. No princípio da criação Cristo, o Verbo ou Palavra (traduções para logos), estava lá. Ele não apenas estava com Deus no momento inicial, mas ele era Deus.
E o que, para João, caracteriza o Verbo como Deus? O fato de ter criado todas as coisas. Sem ele, nada que existe, nada do que conhecemos, nada do que nos alegra, existiria. E sabe por quê? Por que a vida estava nele.
Como alguém desprovido de vida poderia criar um universo tão palpitante? O planeta terra cheio de cores, diversidade, gêneros, enfim, cheio de vida? Não. Ele precisava ser cheio, pleno de vida. E era. "A vida estava nele". Tudo o que o ser humano anseia de plenitude para sua existência estava no Verbo.
E como João caracteriza essa relação doadora de vida do Verbo para com a humanidade? Luz! "A vida era a luz dos homens". A vida do Verbo que reverberou em nós transmitindo-nos vida é comparada à luz que ilumina um canto escuro, que permite ver o que está por trás de fendas, que se projeta no espaço definindo formas. A luz que traz à existência!
A luz do Verbo resplendeceu nas trevas, e as trevas não conseguiram resistir a ela. Nossa existência é um testemunho de que as trevas foram vencidas pela luz!
Mais à frente João afirma que o Verbo se fez carne na pessoa de Jesus Cristo. Jesus nos criou, Jesus nos dá vida, Jesus ilumina nossa vida e nossa alma.
Jesus, o Verbo, o doador de vida e luz manifestou-se criança. Bebê que precisou de seus pais, de pessoas que cuidassem dele, de médicos que lhe dessem remédio, de professores que o ensinassem. A luz que precisou ser iluminada. Mas ele foi e é a verdadeira luz, diante da qual todas esmaecem.
Jesus, o Verbo, nossa luz.
Que as luzes deste natal, que iluminam corpos e olhos, nos lembrem e despertem em nós gratidão ao refletirmos sobre aquela criancinha, que embora frágil, era e é a luz do mundo. Nossa luz. Luz que nos dá vida!
Reflita
"Não podemos ver a luz em si mesma. Podemos apenas ver o que a luz ilumina, como o pequeno círculo da noite onde a vela brilha – o brilho do mogno, uma taça de vinho, um rosto que nos contempla na sombra" (Frederick Buechner).
Retirado do e-book O Menino e o Reino, de Gladir Cabral e João Leonel.