Abraão: entre o desejo e a promessa
// Lagoinha
A promessa está sujeita ao tempo de Deus. Nosso risco é a precipitação
A linha genealógica dos primogênitos de Gênesis 11 parou em Abrão, pois ele não tinha filhos. O significado de seu nome, "pai exaltado", que poderia representar expectativa, responsabilidade e honra, transformara-se em decepção e vergonha. O casamento, caminho natural para a paternidade, não resolveu o problema, pois sua esposa era estéril. Aquele capítulo mostra, portanto, um contraste entre Abrão e seus antepassados, uma condição de aparente desvantagem, embora ele fosse um servo de Deus. A tudo isso somava-se, como agravante, a idade avançada.
Aquele casal tinha um problema sério, mas isso não ocorreu por conta de algum pecado, algum demônio ou maldição. Não mereciam aquilo, mas, ainda assim, Deus permitiu. Costumamos avaliar tudo na vida sob o prisma do merecimento, mas devemos considerar também os aspectos de necessidade e propósito.
Além do problema da esterilidade, havia um desejo: Abrão queria um filho. A reprodução que vinha acontecendo naturalmente em sua linhagem não estava funcionando para ele, mas o que poderia ser visto como desgraça seria o início de uma história sobrenatural. Se tudo sempre funcionasse bem, de modo automático, talvez não nos lembraríamos de Deus. Certamente, não nos sentiríamos dependentes dEle, embora sempre tenhamos sido, mesmo sem saber.
Então, Deus fez uma promessa a Abrão: "Farei de ti uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção… À tua descendência darei esta terra..." (Gn 12.2,7).
Depois da promessa, a tensão aumenta. É como se Abrão dissesse: "Eu preciso, eu quero, Deus prometeu, mas nada acontece". E os anos foram passando…
O desejo humano e a promessa divina podem ser divergentes e conflitantes, mas nesse caso apontavam para a mesma direção. Ainda assim, são elementos diferentes. O desejo pede urgência. A promessa está sujeita ao tempo de Deus. Nosso risco é a precipitação. Uma aparente oportunidade de realização rápida pode ser, de fato, uma armadilha.
Até certo ponto, o desejo é natural e compreensível, mas ele não pode nos dominar nem determinar nossos valores e prioridades, exaurindo nossos recursos e comprometendo de forma negativa o rumo das nossas vidas.
Na história de José do Egito, percebemos seu desejo de sair da prisão, mas ele precisou esperar o tempo de Deus.
Em Atos 1, os apóstolos desejavam a restauração do Reino de Israel, mas Jesus lhes conduziu no caminho da promessa do batismo com o Espírito Santo, que marcaria o início da igreja.
Entre o desejo e o cumprimento da promessa encontra-se o tempo da espera, representando um teste de fidelidade e fé.
Enquanto isso, situações enganosas se oferecem como soluções imediatas. Diante da esterilidade de Sara, a primeira atitude de Abrão foi tratar Ló como filho, o que resultou em grandes transtornos. Depois, pensou que o servo Eliezer seria seu herdeiro (Gn 15), mas Deus o corrigiu. Finalmente, teve um filho com a escrava. Aquela parecia ser a melhor alternativa, mas ainda não era o filho da promessa. O desejo foi realizado, mas trouxe consequências ruins que se prolongam até hoje.
O desejo, mesmo legítimo, precisa ser controlado enquanto se espera o cumprimento da promessa. Caso contrário, os resultados podem ser incômodos, e as perturbações, permanentes.
Podemos desejar tantas coisas, mas o propósito de Deus é melhor. Abraão queria um filho, mas Deus lhe prometeu nações. "Olha para o céu, Abraão. Conta as estrelas, se puderes. Assim será a tua descendência".
Se vivermos guiados e controlados pelos desejos, seremos imediatistas e hedonistas. A vida pela fé nos capacita a esperar o tempo de Deus.
Finalmente, Isaque nasceu, a genealogia de Abraão continuou, e daquela família veio o Salvador, o Senhor Jesus Cristo.
Deus é fiel e nunca deixou de cumprir nenhuma de Suas promessas. Confie e espere.
:: Pr. Anísio Renato de Andrade