Atos 5.13: Mas, dos restantes, ninguém ousava ajuntar-se a eles; porém o povo lhes tributava grande admiração. Esse texto fornece uma fotografia das pessoas que possuem uma grande simpatia ou admiração pela igreja, mas que se mantêm afastadas dela. Sem entrar nas considerações teológicas, mas tomando apenas um gancho do texto, ainda que não seja tão factível usá-lo para falar sobre o assunto, mesmo assim, suponho que posso abordar o tema usando uma perspectiva lançada sobre o povo a partir da informação de Lucas.
Nesse contexto, poderia classificar algumas pessoas nos dias de hoje. Por exemplo, indivíduos que se sentem atraídos pelo evangelho e que gostam de conversar sobre a Bíblia e escutam com atenção, mas por causa de uma tradição familiar religiosa, ou por outras questões, ficam de longe. Há, contudo, ainda um grupo que já fez parte da igreja, professou a Jesus como Senhor, diz ser comprometido com o evangelho, mas também quer distância da igreja. Isso se deve por algum tipo de situação vivenciada em passado recente ou distante, mas que, certamente, marcou essas pessoas.
Seja por algum tipo de frustração que sofreram com a igreja, seus membros ou até mesmo com o pastor. Outra leva de pessoas também rondam o tema: aquelas que alguns as denominam de "beija-flor". Ora, o que significa isso? São aqueles cristãos que visitam igrejas. Hoje aqui, amanhã ali, e assim seguem as suas vidas. Não estão filiados e nem comprometidos com uma igreja local. Gostam de ouvir a Palavra, mas veem defeitos presentes na igreja e, por isso, não se engajam.
Olhando rapidamente para cada grupo comentado aqui, surge a pergunta: " há alguma coisa em comum entre essas pessoas?" A resposta está no título do texto: "Confortáveis na Periferia!" Seja qual for a classe de pessoas que não se "ajunta" à igreja, a resposta é a mesma: elas estão confortáveis.
Antes de mais nada é preciso enfatizar que, quando falamos da igreja, estamos falando de duas coisas: do poder do evangelho e do compromisso com Deus. A igreja é uma instituição do Senhor e não há como ficar fora dela se um dia fomos alcançados pelo poder transformador de Cristo.
Assim sendo, começamos por aquela classe de pessoas que se sentem atraídas pelo evangelho, mas ficam de longe por razões que já foram expostas. Para abraçar o evangelho e a igreja, precisam romper com coisas que, certamente, trarão complicações para as suas vidas (João 12.42; Lucas 14.26). Outro grupo a que me referi, são os frustrados com a igreja. Essas pessoas, costumam classificar a si mesmas como acima da média. Pensam que não possuem defeitos, mas os dos outros são gritantes. Para eles, a igreja tem que ser perfeita, ou melhor, precisa marchar segundo os seus próprios padrões.
Se assim não for, se magoam, se frustram e resolvem ficar longe. Dessa forma, se sentem confortáveis, uma vez que para estar envolvidos precisam pagar um preço que não estão dispostos. O último tipo que relacionei é bem parecido com o qual acabei de comentar. Ambos veem os defeitos e problemas da igreja local, mas se diferem porque o primeiro quer distância da igreja e esse último parece "buscar uma que se ajuste ao seu modo de ver as coisas". Ele se mantém distante apenas no quesito compromisso ou filiação, mas quer estar presente, seja aqui, ali ou acolá.
Em síntese, todos se sentem confortáveis na periferia. Não há entrega e, portanto, não há compromisso. O ponto alto em questão é o resultado. O primeiro time, apesar da simpatia ao evangelho e à igreja, acaba por não romper com todo embaraço. Dessa forma, eles mesmos fizeram a sua escolha eterna. Não querem Deus nas suas vidas. Por causa dessa escolha, num futuro próximo, o Senhor concordará com eles. Viverão banidos da sua presença para sempre e eternamente.
Quanto aos outros, não ouso dizer que estarão longe do Senhor para sempre, mas com certeza, estão vivendo perigosamente. Por quê? Porque, ao abandonar a comunhão com os irmãos, não se envolvendo e não se integrando, a pessoa pode ir perdendo a sensibilidade espiritual. O que isto quer dizer? Por questões muito óbvias, esse cristão deixa de ouvir a voz do Espírito em seu coração, e vai perdendo a percepção espiritual. É aí que mora o perigo.
Natanael Gonçalves, pastor da Igreja Batista das Nações, em Bournemouth, Inglaterra