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2015-02-09

Pais e Filhos


Pais e Filhos
// Lagoinha

“Porque, se vocês perdoarem as pessoas que ofenderem vocês, o Pai de vocês, que está no Céu também perdoará vocês. Mas, se não perdoarem essas pessoas, o Pai de vocês também não perdoará as ofensas de vocês” (Mt 6.14,15)

Relacionamento é a capacidade que a pessoa tem de conviver com outras, de manter ligações de amizade. Conviver é viver com. A convivência entre pessoas sempre é um caminhar complicado. Na família, as coisas tornam-se mais sérias, pois é dentro de casa que se conhece melhor o outro, já que esta é uma relação sem máscaras. No lar, cada um é o que é. Não há necessidade de fingir. Todos se conhecem. Cada um sabe até onde pode falar ou calar-se com o pai, a mãe, o irmão, a irmã, etc. Um sabe do limite de resistência do outro, bem como seus pontos fortes e fracos. O relacionamento entre pais e filhos na família cristã deve seguir o modelo de Efésios 6.1-4. Se, por um lado, há dever dos filhos em honrar os pais, há dos pais em não provocar a ira dos filhos. É um relacionamento de parceria. É uma rua de mão dupla. A responsabilidade nesse relacionamento, como em qualquer outro, é sempre de troca. Não é quem manda mais, mas é o respeito pelo direito e espaço do outro, tanto dos pais quanto dos filhos. É um modelo saudável, em que todos crescem como pessoas. Além disso, num relacionamento desse grau, no dizer de Louise Hart, “(…) nossos filhos nos dão a oportunidade de sermos os pais que sempre quisemos ser”.

O texto de Efésios 6.1-4 foi escrito pelo apóstolo Paulo para demonstrar esse lado cristão. No Império Romano havia o pátrio poder (patria potestas). Esse era um direito que o pai romano tinha sobre a família toda – mulher e filhos – de poder absoluto sobre eles. Podia vender os filhos como escravos, exigir trabalho pesado, castigá-los até a morte, etc. Também havia o costume de abandonar o filho. Quando nascia um menino, ele era colocado aos pés do pai; se o pai inclinava-se e o levantava, significava o reconhecimento de que o desejava para si. Caso desse meia-volta e saísse, significava o não reconhecimento, e o filho era abandonado ou, às vezes, morto. Quando nascia um deficiente físico, ele tinha poucas esperanças de sobrevivência. A sociedade em geral era implacável com os enfermos e deficientes.

Sabemos que em nossa sociedade atual as regras são outras. A criança é desejada, é recebida e reconhecida com alegria, embora existam casos de rejeição por uma série de fatores, inclusive, por parte de pais crentes. Mesmo com a criança deficiente, a família consegue manter um relacionamento, considerando-se as dificuldades. Será que o texto bíblico de Paulo e seus conselhos são desnecessários hoje, já que vivemos em outro tipo de sociedade? Não. Eles também são atuais.

Não há como escapar. Toda família enfrenta, no relacionamento entre pais e filhos, o choque de gerações. Isso é um fato inegável, porque por mais jovem que você seja, quando começam a nascer os filhos, em geral, a diferença de idade entre você e eles é de 16 a 25 anos. Vamos tomar como média geral 20 anos. É claro que uma pessoa que já viveu esse tempo a mais está uma geração à frente, e sua visão de mundo também é diferente. No entanto, isso não deve servir de obstáculo para o relacionamento entre pais e filhos; pelo contrário, é um dado positivo e fundamental na interação de ambos os lados. A energia e a vitalidade dos filhos, somadas à experiência dos pais, podem dar um colorido especial à família toda. O importante é não subestimar o outro, mas reconhecer o que de bom o outro oferece. Nessa perspectiva, o ensino bíblico pode ser praticado sem problemas – filhos honrando pais / pais não provocando os filhos. Nessa diferença de gerações, podemos visualizar três tipos de relacionamento: 1. Pais x Filhos; 2. Pais = Filhos; 3. Filho = Pai.

O primeiro caso quando se mantém um de cada lado para saber quem ganha a partida, decididamente não é o modelo de Deus. Nessa situação ocorre a briga pelo poder. Quem manda: pais ou filhos? Há exemplos de famílias em que são os pais que mandam, e outras são os filhos. Essa luta pelo poder é uma manifestação doentia de relacionamento. Não há harmonia. Não há paz. O segundo caso é um relacionamento sem limites. Não se sabe quem é quem no lar. A hierarquia, o respeito, o lugar de cada um são importantes. O ideal do modelo cristão é o terceiro caso, pais = filhos. É a harmonia, o equilíbrio, e a Bíblia prima por modelos de equilíbrio para o ser humano.

:: Pr. Ivan Góes