Tire o olho do retrovisor
// Lagoinha
Por conta das muitas mudanças de cidade e até de país, várias vezes, fui forçado a me adaptar a novas cidades, novos ambientes de trabalho, novas igrejas e novos amigos e irmãos. Nunca foi fácil. Sempre era tentado a fazer comparações com o passado. Hoje, posso afirmar – com um certo arrependimento – que perdi boas oportunidades em alguns lugares porque não aproveitei tudo que era possível aproveitar e meu olhar, por vezes, estava focado no maravilhoso passado noutro lugar. Não tenho receio de expor isso, porque tal atitude é comum ao ser humano; todos vivemos coisa parecida. Quem não suspira quando se lembra dos bons tempos da escola ou da igreja onde se converteu e recebeu os primeiros ensinos teológicos? Da infância, então, nos reportamos como a antessala do Céu. Geralmente, crianças não veem problemas, pobreza ou dificuldades, então, tudo está sempre lindo e deixa boas lembranças.
Mas crianças crescem e, na pré-adolescência, se tornam conquistadores, na adolescência, mal compreendidos desbravadores, e na juventude, indomáveis, até alcançarem a vida adulta e empacarem como um burro velho. Isso mesmo: adultos simplesmente diminuem a marcha, metem o pé no freio e seguem bem devagar, com medo de tudo. Ainda bem que não são todos. Mas é a maioria, garanto. Quase todo mundo se esquece que um carro tem cinco ou mais marchas, apenas uma marcha-ré, e que retrovisores só devem ser utilizados quando é necessária uma manobra especial. Medite no ditado: "Quem vive olhando para o retrovisor, preso no passado, acaba por atropelar as novas possibilidades". Não sei quem escreveu isso, só sei que acertou em cheio na alma das pessoas que só vivem do passado, como se o amanhã não existisse e tudo do hoje fosse ruim.
Esse ditado pode ser aplicado em várias áreas da vida. Quem só pensa nos velhos amigos, não consegue fazer novas amizades. Quem se agarra apenas ao trabalho ou à função atual que exerce nele, dificilmente sairá de onde está para algo melhor ou diferente. Quem só pensa e fala na igreja onde foi mais atuante e vitorioso, não consegue enxergar oportunidades numa nova congregação. As antigas amizades, o antigo trabalho, a antiga igreja, as fotos e os antigos laços, não precisam ser totalmente abandonados, desprezados ou esquecidos. Vez e outra é bom reencontrarmos essas boas coisas do passado, só não podemos viver delas, por elas e para elas. Quem deseja avançar na vida, precisa urgentemente abandonar os retrovisores e a marcha-ré.
Em meio aos desafios do ministério, Paulo proferiu um dos seus mais famosos versos: "Esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, pelo prêmio do chamado celestial de Deus em Jesus Cristo" (Fp 3.13,14). Assim como fazemos hoje, evidentemente que em suas mensagens, Paulo também contou muitas histórias da sua vida e do Antigo Testamento, como forma de ilustrar ideias avançadas, todavia, nem por isso ele vivia no passado. Seus pensamentos sempre foram modernos e sua mente estava focada no futuro vitorioso, por isso, suas ações, de contínuo, eram inovadoras e ele avançava ganhando cidades para Cristo e continuamente treinando novos pastores e líderes.
Posso imaginar Paulo nos dias de hoje: celular última geração em mãos, usando as redes sociais, voando para todo lado, participando de programas de TV e rádio, gravando vídeos para o Youtube, DVDs, CDs, palestrando em empresas e universidades, encontrando-se com empresários, presidentes e governadores, mas também andando com as pessoas comuns, ensinando-as e aprendendo com elas. Tudo isso sem ser arrogante, sem desprezar o passado, sem se corromper e sem desprezar as pessoas e o novo que elas podem lhe apresentar.
Posso também imaginar você, leitor, esquecendo-se das coisas que ficaram para trás, avançando para as que estão adiante e prosseguindo para o alvo. Vejo você abandonando de vez o seu passado longe de Deus ou mesmo a lentidão dentro da igreja, e prosseguindo para novos desafios: abrir ou receber uma célula em sua casa, cursar teologia ou outra faculdade, para utilizar no Reino, colocar seu ministério para funcionar, envolver- se com outros ministérios, visitar as pessoas, abandonar os vícios que o afastam da santidade, reorganizar o casamento e os relacionamentos, enfim, dar uma faxina na casa, viver em novidade e avançar para cima do novo ano como um vencedor e não um nostálgico que só olha para o passado e pensa em trazê-lo à tona todos os dias.
Portanto, ignorando as vozes negativas, volte a ser o pré-adolescente conquistador, o adolescente desbravador, o indomável jovem e deixe de usar o freio e o retrovisor com tanta frequência. Quem olha demais o retrovisor ou está ultrapassado ou com medo de alguém ultrapassá-lo. Você não está na Terra para vencer pessoas. Seu maior inimigo é você mesmo. Os desafios do presente são diferentes e exigem respostas diferenciadas e contextualizadas, mente aberta e coração disposto a avançar por novas terras. Por isso, pé no acelerador que o ano só está começando. Você é um vencedor, mas tem que deixar de olhar o retrovisor.
:: Pr. Atilano Muradas