Estava pensando sobre esse tema, quando alguns exemplos de pessoas que alcançaram seus objetivos vieram à minha mente, e não importando a classe, sejam elas cristãs ou não, uma coisa vislumbrei: DETERMINAÇÃO! Quase sempre a determinação parece ser a alavanca que as empurra em direção ao alvo por elas proposto.
Há à disposição do público evangélico, livros que discorrem sobre o assunto e uma lista infindável de autores não evangélicos fazem sucesso com a abordagem da auto-ajuda, levando as pessoas às livrarias para adquirem o último best-seller. O autor brasileiro Paulo Coelho é um bom exemplo de sucesso com seus escritos que ultrapassaram as fronteiras, e é um dos mais lidos na atualidade.
Despertar o que está latente no ser humano parece dar resultados. Muitos mudam as suas atitudes e pensamentos e se tornam pessoas diferentes e chegam a alcançar seus objetivos nesta vida, apenas acordando o potencial que sempre esteve presente.
Alguns psicólogos cristãos estão ensinando nesta direção. Pastores e líderes de seminários mostram e até usam a Bíblia para respaldarem o ensino da autoajuda. Não é sem frequência que ouço aquela famosa pergunta: "mas que mal há nisso?" Não estamos prosperando? Não estamos alcançando os alvos que estabelecemos? Não nos tornamos pessoas melhores, mais ajustadas e comprometidas com a sociedade? Há um tempo atrás, ouvi uma mensagem baseada em Filipenses 4.13 que diz: "Posso todas as coisas naquele que me fortalece".
O pregador enfatizava o "eu posso todas as coisas" para ensinar às pessoas que elas podem alcançar o que planejam ter o que desejam e ser o que intentam. Não há impossibilidades para o "eu posso todas as coisas". Nessa linha de pensamento há uma enxurrada de mensagens circulando pela internet através de e-mails, vídeos, redes sociais e não poucos são os pastores que abraçaram esse ensino.
Ao examinar a Bíblia, vejo um perigo iminente e uma teia que pode emaranhar aqueles que gostam de degustar tudo que vem à mesa, principalmente porque são atraídos pelo visual do prato que pode satisfazer os seus anseios e desejos. Porventura não foi assim com Eva? A mensagem e o apelo são sempre na mesma direção, ou seja: o desejo da carne, o desejo dos olhos e a soberba da vida (1 João 2.16). Deixar-se envolver por esse vento de doutrina tão presente no século 21, pode significar o afastamento do propósito de Deus para as nossas vidas. Se você não concorda comigo, permita-me mostrar-lhe algumas objeções com relação ao que expus acima.
1) Ao referir-se em Fl 4.13, Paulo não ensinava que o cristão poderia ser o que quisesse ou ter o que desejasse. Lendo o contexto do versículo ele explica que padeceu necessidade, teve em abundância, experimentou abatimento e em todas as coisas foi instruído. No instante em que ele escrevia essa carta aos cristãos de Filipos, passava por outra situação difícil: estava preso! Por isso, ao fazer uma análise de todas as circunstâncias em que viveu, declarou algo que ecoou por todos os corredores do presídio: "posso todas as coisas em Cristo que me fortalece!" O diabo poderia pressioná-lo em diversas áreas, mas em Jesus, que o fortalecia, ele estava pronto a passar por tudo.
2) Muitos cristãos assumem que podem "tudo", mas, invariavelmente, essa afirmação está envolvida com o "ter" e o "ser". O apóstolo João fala no texto, sobre a "soberba da vida". O "eu posso todas as coisas", fora do contexto de Paulo, me enlaça nas cordas da soberba e me afasta da minha verdadeira condição limitada. Descentraliza a pessoa de Jesus e põe no centro o meu ego, que podendo todas as coisas, diz em alta voz e nos corredores da vida: "Eu posso!" Sim, EU!
Não podemos negar os benefícios de atitudes positivas. Elas se manifestam em todas as áreas da nossa vida, mas as atitudes e pensamentos positivos, por si só, não podem operar a transformação no coração do homem. Contudo, o poder da operação é tão somente do Senhor. Ele que é digno de receber todo louvor. Não temos méritos e não podemos fazer nada, a não ser crermos que ele fará e se manifestará na vida daqueles que nele confiam. Será que era isso que Paulo tinha em mente quando escreveu aos cristãos que estavam na cidade de Corinto (2 Co 4.7)?
Se não, vejamos: "Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós." Pensar sobre as nossas limitações é um exercício que nos faz bem. Davi tinha consciência da sua condição e, talvez por isso mesmo ele registrou no Salmo 69.2 "Estou atolado em profundo lamaçal, que não dá pé; estou nas profundezas das águas, e a corrente me submerge". Não importava o tamanho do seu reino e nem tampouco o tamanho do seu exército, quando estava em tempos de necessidades, sabia-se insuficiente, por isso clamava ao Senhor. E, como resultado desse clamor pode-se ler no Salmo 18.6 "Na minha angústia, invoquei o Senhor, gritei por socorro ao meu Deus. Ele do seu templo ouviu a minha voz, e o meu clamor lhe penetrou os ouvidos".
Finalizando, lembro que o apóstolo Paulo atravessou situações extremamente difíceis e, por fim, foi martirizado. Como ele poderia desafiar todas essas circunstâncias se o Senhor não o fortalecesse? Você seria capaz de afirmar o "eu posso todas as coisas" dentro desse cenário?
No amor de Cristo Jesus, aquele que nos fortalece,
Natanael Gonçalves, pastor da Igreja Batista das Nações, em Bournemouth, Inglaterra